Este ano de 2020, o 1º de Maio assinalou-se, no país e no mundo, sob fortes restrições, resultantes do isolamento físico imposto à comunidade pelas exigências de saúde pública, no contexto da crise do COVID-19.
A pandemia do novo coronavírus abalou o mundo e recordou-nos como é essencial proteger e reforçar o SNS, nomeadamente através do aumento do seu financiamento público, do investimento em valências como camas hospitalares nos cuidados intensivos ou equipamentos tais como os ventiladores. O esforço que os profissionais de saúde têm vindo a dispender para salvar vidas e manter o sistema de saúde abaixo do nível crítico também nos lembra como é importante a valorização salarial destes e destas trabalhadoras e a proteção da sua saúde e segurança no meio hospitalar.
O encerramento temporário de inúmeros serviços públicos, dos quais destacamos as escolas e as universidades, não passou ao lado daqueles para quem o ensino – que se quer gratuito e universal – é um dos pilares do Estado Social e que nem mesmo sob as mais difíceis condições ele deve parar de formar a futura força de trabalho que se quer cada vez mais qualificada e dispondo de meios robustos para reclamar condições de vida dignas e o bem estar social.
O ensino à distância, quer o proporcionado pelas tecnologias de informação e comunicação online, quer através da recuperação da velhinha “teleescola”, tem dado um sinal de esperança na luta travada contra o COVID-19, permitindo que milhares de alunos e de estudantes universitários de todo o país mantenham o foco na preparação do seu futuro. O nosso futuro.
No meio das adversidades, a investigação científica deu passos decisivos no estudo de novas doenças e na procura do conhecimento acerca de como nos protegermos adequadamente em situações como esta, prevenindo o contágio em massa e os riscos para a saúde de quem é infetado.
Mas a crise do COVID-19 arrasta consigo uma outra crise, de ordem económica. O capitalismo decadente revela as suas fragilidades e contradições quando o encerramento de grande parte da atividade económica acarreta o risco de gerar um sem número de falências e milhares de desempregados. Longe vão os tempos em que o discurso do liberalismo era acerrimamente contra a intervenção do Estado na economia…Tão cedo não o irão retomar.
Agora que o Estado de Emergência foi levantado e que o Governo prepara a lenta e cautelosa retoma da economia e a reabertura dos serviços públicos, é necessário ter presente a ideia de que o pior ainda não passou e que o melhor não é, certamente, "regressar à normalidade” que nos trouxe até aqui. Se nada mudarmos, “não vai ficar tudo bem”
Não podemos aceitar que haja classes de trabalhadores que não têm qualquer proteção em situações de crise como a que atravessamos neste momento. Que os trabalhadores sejam empurrados para o “lay-off” que lhes corta os salários e apenas beneficia o patronato, que os trabalhadores a recibos, com contratos a termo ou em perído experimental sejam dispensados sem terem direito a nada, que não haja respeito pela saúde e dignidade de quem gera o lucro do patrão.
Não podemos tolerar que as grandes empresas distribuam dividendos entre os acionistas em ano de perdas e ao mesmo tempo que encerram estabelecimentos, despedem trabalhadores precários e pedem subsídios e ajudas ao Estado.
Não podemos permitir um SNS constantemente sob a ameaça da delapidação por força dos poderosos interesses dos grupos económicos privados que afirmam sem pudor que o negócio da saúde é o mais lucrativo, “apenas atrás do negócio das armas”.
Jamais poderemos regressar às políticas de austeridade que levaram ao empobrecimento de quem vive do rendimento do trabalho e à privatização de serviços públicos essenciais, em áreas como os transportes, os correios, a energia e os combustíveis.
Nem tão pouco estaremos em condições de manter o mesmo consumo de combustíveis fósseis cuja drástica mas ainda insuficiente redução de emissões poluentes se destacou durante as semanas mais críticas da pandemia.
Exige-se do Governo e das autarquias locais respostas claras para as pessoas que estão em situação de maior vulnerabilidade e um estímulo forte à reconstrução do tecido económico, mais ecológico, sustentável e adaptado às nossas necessidades. Os trabalhadores independentes, os pequenos empresários, os pensionistas pobres, os profissionais do espetáculo que ficaram sem sustento, as famílias em situação de pobreza, os imigrantes, os sem abrigo, as vítimas de violência doméstica.
Ninguém pode ficar para trás.
Saudamos todos os trabalhadores e trabalhadoras que, apesar das investidas do grande capital, continuam a lutar por condições de vida e de trabalho dignas e justas.