Share |

«Lembrar Abril é dizer que esta terra é de todos e que queremos ser donos do nosso destino»

Exmo. Senhor Presidente 

Exmos. Srs. Deputados

Exmos. Srs. Vereadores

Autoridades Presentes

Coletividades Presentes

Digníssimo Público

O Coro Infantil Municipal dos pequenos Cantores da Maia

O Coro Infantil dos Fontineiros da Maia

 

Para o Bloco de Esquerda comemorar e avivar a memória de Abril é cada vez mais uma obrigação!

Decorreram 42 anos desde que o sonho de uns se transformou na realidade magnifica que hoje vivemos! Magnífica porque quem como eu e muitos de nós viveu o antes e o após da Revolução de Abril, jamais esquecerá a mudança e as transformações radicais que melhoraram a vida da maioria do povo português e transformaram completamente o nosso país!

Com Abril, elaboramos uma Constituição na qual ficaram plasmados os pilares dos ideais de Democracia, dos Direitos Sociais que definiriam como primeiros os objetivos da construção de uma Sociedade mais justa, fraterna e igualitária!

Por isso, também e simultaneamente, comemoramos hoje os 40 anos da Constituição da Republica Portuguesa!

Fechar os olhos e regressar ao nosso tempo de criança é um exercício que nos fará refletir como vivíamos e como hoje vivemos! Foi fantástica a viagem que em conjunto conseguimos fazer!

Olhemos para o nosso passado: quase todos tínhamos muito pouco e alguns quase nada! Nada de direitos, nada de liberdade, uma Guerra Colonial que estropiava e retirava o futuro aos nossos jovens e a liberdade aos povos das colónias; era o tempo do emprego sem direitos, com salários de miséria, sem férias, sem subsídios de férias ou de Natal. Era o tempo do trabalho sem direitos e sem liberdade para poder reivindicar fosse o que fosse.

Lembro-me do meus familiares dizerem “nada de política, eles estão sempre à coca, à espreita”; era o medo que nos atazanava, que nos tolhia a vida, que nos cerceava o futuro! O ensino não chegava a todos, nem nada que se parecesse; quantos foram os da minha geração que mal aprendiam o AEIOU, para logo terem de ir trabalhar, para ajudar as famílias!

Era o tempo de uma elevadíssima mortalidade infantil; a maioria das crianças não tinha sequer direito a sê-lo. Que coexistia com o baixo índice de esperança média de vida da nossa população e com a falta de cuidados de saúde. Era o tempo de tantos outros atrasos e injustiças que dariam para escrever um compêndio…

A mudança foi fantástica, e em pouco tempo o país e as condições de vida do nosso povo melhoraram significativamente! Mas o percurso não tem sido nada fácil e os últimos anos têm assumido foros de um verdadeiro ataque a conquistas e direitos que tínhamos como seguros.

A Constituição tem sido um reduto importante da defesa de direitos fundamentais. Perante a arremetida da direita neoliberal e da finança, perante políticas cujo único objetivo era, e é de facto, voltar atrás no tempo, criando e alimentando situações de crise, provocando o aumento das dívidas nacionais, tornando, ao mesmo tempo, cada país refém dessa mesma dívida, e impondo politicas de austeridade insuportáveis, restritivas dos direitos e, como tal, inaceitáveis para quem tanto lutou para os conquistar.

É por tudo isto que, com vontade redobrada, revivemos Abril e defendemos a Constituição! Porque em 25 de Abril de1974 viramos uma página decisiva da nossa história e tomamos nas nossas mãos o nosso destino!

É com inquietação e revolta que verificamos que nos pretendem impor um outro caminho, um caminho decidido em Bruxelas ou noutro lado qualquer, sem o respeito pelos basilares direitos enquanto pessoas que vivem e construíram um país com muitos séculos de história!

Desde a crise de 2008, provocada pela finança e pela banca, que os únicos que têm saído vencedores e com ela lucraram são os mesmos banqueiros que a provocaram (cabendo a nós tapar os buracos por eles abertos no BPN, BPP, BES, BANIF, etc.). Como ainda ontem referia o Jornal de Notícias: “nenhum processo contra a banca foi decidido em 10 anos”! É escandaloso!...

É assim a regra de jogo da finança: a justiça, querem-na pura e dura para os mais fracos, e muito mole ou inexistente para os poderosos! E esta regra é contra a própria existência das sociedades, porque a finança sem regras se tornou num cancro que as mina, e não numa parte normal do tecido social.

É que não nos pretendam iludir com falsos culpados, com a treta de que tudo isto da crise é inevitável e de que não há solução porque “vivemos acima das nossas possibilidades”! Não são os portugueses, a trabalhar, no seu dia-a-dia, que engordam os offshores!

Não nos enganam e, a tudo isto, o nosso povo já deu uma resposta, no anterior ato eleitoral!

Eles, os causadores das crises, é que vivem e sempre viveram acima das possibilidades e da decência… Nós não suportamos mais a falta de vergonha dos seus porta-vozes e da sua imprensa, quando apontam o dedo a gente que recebe subsídios de 50, ou 100, ou 200 euros, para que não se fale de desvios e escândalos de milhares de milhões de euros.

Não queremos continuar a ouvir que a Segurança Social não vai responder às necessidades da população, quando é claro que o que se pretende justificar é a entrega deste filão aos privados.

O ensino pago a preço de ouro, a saúde a mesma coisa; as poupanças para as reformas desviadas para a banca, e, depois, eles tratam de tudo da nossa vida, do nosso futuro!!! Exemplos não faltam! Não há paciência!

Todos os recursos que produzimos são para pagar, sem pestanejar, desastres da banca e a monstruosa dívida por ela criada, em prejuízo dos salários, das pensões, da saúde, da educação, do emprego, resumindo, da dignidade do nosso povo!

Por isso afirmamos o que urge defender o que conquistamos em Abril, e que estava a ser retirado, todos os dias, de forma pensada, planeada, por essa gente, que terá de ser travada e derrotada, por essa gente quase sempre sem rosto, por essa ínfima minoria sem princípios.

O caminho é outro e bem diverso deste! …

Porque todos vibramos com a conquista da Liberdade, com um povo inteiro a lutar para acabar com a exploração, pela construção de um País Novo, mais igual e com direitos! E conquistamos muito, mesmo muito!...

Essas conquistas deram à geração dos meus filhos condições e qualidade de vida. E hoje, quando já tenho netos, vejo voltar os tempos da vida sem horizontes, sem futuro e agora nem para nós nem para eles e isso é insuportável, inquietante, porque o sonho ainda não é a realidade e a sua concretização é ciclópica é uma tarefa que todos teremos de agarrar e levar a cabo! Por nós, por eles e pelo cumprimento da dignidade da pessoa!

Lembrar Abril é por isso continuar a dizer, agora e sempre, que esta terra é de todos nós e que queremos continuar a ser donos do nosso destino, aqui na Maia, ou em qualquer local do nosso fantástico país.

VIVA O 25 DE ABRIL!

 

Maia, 25 de Abril de 2016

Os Deputados do Bloco de Esquerda

Silvestre Pereira e Luisa Oliveira