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Correio da Maia entrevista Silvestre Pereira

O jornal Correio da Maia publicou, este mês, uma entrevista com o lider da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal da Maia.

Silvestre Pereira lembra que "a Maia não é o oásis que muita gente pensa" e defende uma aposta crescente no âmbito social do concelho, a grande falha do executivo PSD/CDS ao longo dos últimos anos.

 

E: Como é que surgiu a oportunidade de enverdar pela política local no concelho da maia?

S: É uma sequência normal da nossa ação política a nível nacional, regional e até no distrito. Nós concorremos às eleições da Maia logo que o Bloco apareceu como força política. Na altura só concorremos para a câmara, mas depois fomo-nos organizando, fomos crescendo e, neste momento, já temos um núcleo de pessoas muito significativo. A partir de 2009, já conseguimos eleger dois representantes na assembleia municipal e alargamos a nossa base de apoio. Apesar dos resultados a nível nacional, nós aqui na Maia temos vindo a concretizar um trabalho muito regular no contacto com a população e na intervenção na assembleia municipal e nas assembleias de freguesia onde estamos representados. (...) Em termos proporcionais, somos de longe a força política que mais intervém na assembleia municipal.

E: Acha que o partido tem condições para, a curto prazo, chegar ao executivo municipal?

S: Sim, claro que tem. Nós temos condições porque não só temos pessoas competentes para os cargos como temos vontade de resolver os problemas. O Bloco de Esquerda faz muita falta no executivo camarário e penso que o povo da Maia teria muito a ganhar com a nossa presença no executivo. (...)

E: Que avaliação faz do papel do atual executivo?

S: Eu acho que o executivo, que governa o concelho há mais de 40 anos, tem feito coisas boas e coisas más. A Maia cresceu muito graças à sua localização estratégica, constitui um conjunto de vias rodoviárias excecionais, estamos ao pé do aeroporto, estamos perto do porto de Leixões, etc. Temos um conjunto de condições execionais que facilitam o crescimento do concelho.

E: Então acha que o executivo soube aproveitar bem essa base de suporte?

S: Esse suporte, a determinada altura, foi positivo mas insuficiente. Eu continuo a defender que as condições que são dadas à instalação de algumas empresas amigas do ambiente são insuficientes. (...) deveriam ser maiores, assim como as condições de trabalho e de salário. Aqui na Maia, o crescimento do número de empresas deve-se essencialmente a grandes empresas que estão aqui instaladas há muito tempo, como é o caso do Continente. É importante termos estas empresas (...) mas os postos de trabalho ocupados (...) acabam por chegar à precariedade e as pessoas ganham cerca de 490/500 euros por mês. Não digo que no pequeno comércio as pessoas ganhem mais ou menos, mas não tinham a mesma função nos contratos de trabalho.

E: Acha que essa é a mudança fundamental a ser concretizada?

S: Sim, penso que há falta de uma estratégia para o futuro e trabalha-se muito para o imediatismo. Um dia destes, a bolha social da inquietação e da revolta vai acabar por rebentar, e a bomba vai cair nas mãos dos governos que apenas analisam os números e não se preocupam com as pessoas e a sua qualidade de vida. Nós não queremos exigir mais das instituições, mas queremos exigir da sociedade, porque se não formos nós a lutar uns pelos outros, vão continuar a morrer pessoas à fome (...) Também há necessidades de habitação, precisamos de rever o nosso parque habitacional porque há imensas pessoas que ficaram sem casa.

E: Considera que o atual executivo tem, então, prioridades diferentes?

S: Penso que, do ponto de vista social, o atual executivo tem um plano de resposta à situação muito reduzido (...). Deixamos encerrar centros de saúde em Àguas Santas e outros locais e estamos a perder a capacidade de prestar um serviço melhor aos nossos cidadãos e até os apoios à 3ª idade são cada vez mais reduzidos. Há inúmeros casos de pessoas que não têm condições em casa, que não têm dinheiro para pagar as contas e os medicamentos e ninguém facilita estas situações. O nosso concelho ainda pode melhorar, há muita coisa a ser feita.

E: Foi aprovada na última reunião de assembleia a dissoluçao do fundo de investimento fechado Praça Maior. Considera que essa foi uma boa resolução ou deveria ter sido um problema evitado logo à partida?

S: Naturalmente. Dá-me a impressão que apenas o Bloco de Esquerda apresentou uma razão estruturada do porquê da situação. Avisamos logo que não eramos contra a criação de fundos mas que chavamos que, para os projetos em causa, estes não iam ser solução.

Posto isto, a resolução do fundo era a úncia forma de não se perder mais dinheiro, para que o fundo não entre em falência. Para o fundo continuar ativo, teria de ser a câmara a meter o valor em falta, e isso seria incomportável. (...) Vamos agora esperar para ver o resultado dos outros dois fundos (Maiaimo e MaiaGolfe), mas não tenho grandes expectativas.

E: Caso se reunam as condições necessárias, pretende candidatar-se à câmara municipal da Maia no futuro?

S: Eu já fui candidato à câmara, mas isso aconteceu num momento em que ainda não tínhamos a força que temos hoje. Hoje, candidatar-me à câmara não faz parte dos meus planos, acho que há gente nova bem capaz de desempenhar esse papel. A nossa preocupação, no presente, é responder às questões sociais e aos problemas que afetam a população da Maia.